Quando pesquisamos sobre a prevalência de dor lombar em pacientes adultos com escoliose, encontramos resultados nos mostrando que há um maior número de indivíduos com escoliose que sentem dor lombar se comparado com adultos sem escoliose.
O motivo pelo qual há essa prevalência maior, não é totalmente clara para nós.
Por que você acha que pacientes com escoliose sentem mais dor lombar?
Provavelmente teremos respostas como: "porque a coluna é torta"; "porque ela recebe impacto diferente"; "porque os discos se desgastam mais"; "porque a artrose é mais severa".
Se sua resposta foi parecida com uma dessas, ou se sua justificativa foi baseada em algo ESTRUTURAL E ANATÔMICO, vamos conversar um pouco sobre as novas evidências sobre DOR e sobre a visão BIOPSICOSSOCIAL na abordagem e tratamento de pacientes com dor crónica?
O que é dor pra você?
Vamos começar com uma afirmativa que pode lhe soar estranho, mas é verdade:
DOR NÃO SIGNIFICA LESÃO.
Isso mesmo! Quando sentimos dor, não significa SEMPRE que há uma lesão associada.
A dor funciona no nosso corpo como um sistema. Assim como temos sistema digestório, cardíaco, respiratório, temos o sistema de dor que nos é benéfico para sempre nos informar sobre "um perigo eminente".
Imagine-se andando em um parque descalço e de repente você pisa acidentalmente em um prego. O sistema de dor no sistema nervoso central, mandará um sinal de dor para sentirmos o prego no pé e tomarmos medidas para nos livrarmos daquilo. "entrou algo no nosso pé! Tira o pé daí e vá procurar ajuda!"
Agora, imagine-se nesta mesma situação do parque, porém, um pitbull se solta da coleira e sai correndo atrás de você! Será que você vai sentir dor no pé, ou vai sair correndo para proteger sua vida do pitbull?!
O cérebro rapidamente entenderá que a situação do pitbull será mais perigosa para manutenção da sua vida naquele momento se comparado com o prego no pé. Portanto, não emitirá uma resposta de dor no pé e sim, preparará o seu corpo para fuga! Depois, protegido, pode ser que o pé volte a te incomodar!
Estas situações mostram que nosso sistema de dor está funcionando muito bem, protegendo nossa vida de possíveis perigos. A dor é boa desde que motive você a se manter seguro e para nos avisar de possíveis problemas do nosso corpo.
O grande porém é quando, por algum (ou alguns) motivos, este sistema está desregulado!
O corpo produz dor para nos proteger. Após uma lesão ou doença, o corpo protege a área lesionada para ajudar a curar. Sendo assim, o corpo libera substâncias químicas que deixam a região mais sensível, para que você tome mais cuidado com a região lesionada. Isso é uma resposta normal do corpo para nos proteger enquanto ocorre o processo de cicatrização e cura.
A Dor lombar é muito frequente na população mundial.
Estudos apontam que uma dor lombar AGUDA dura em média seis semanas e se resolve sem nenhuma intervenção. Isso se chama história natural da doença!
Agora, estamos nos deparando com muitos quadros de dor lombar crônica. Por definição, quadros crônicos se dão quando se têm sintomas por três meses ou mais. Parece que adultos com escoliose que recebem a vida toda informações que te limitam, se enquadram neste grupo de pacientes com dor lombar crônica inespecífica.
Por motivos que vamos listar adiante, nosso sistema de dor que deveria desligar após o período agudo, se mantém ativo e em alerta, disparando dor em momentos e situações que não são de perigo eminente. Nervos mais sensíveis, se ascendem mais facilmente no sistema de dor que está desregulado.
Crenças, informações Nocebo (que profissionais de saúde dão aos seus pacientes limitando-os de atividades de vida diária e recreacional) e experiências passadas influenciam no nosso sistema de dor. Ou seja, se acreditamos nas histórias dos vizinhos "eu tenho dor nas costas e nunca mais vivi sem dor. com você, será o mesmo"; se acreditamos na fala do médico que diz "Meu Deus, você tem 30 anos mas tem uma coluna de 80"; se acreditamos no nosso fisioterapeuta "Você não pode mais carregar peso, se não ,sua hérnia vai piorar e você vai sentir mais dor"; se você evita se movimentar porque no passado já sentiu dor nas costas e não quer passar por essa experiência novamente, você vai adotar hábitos mal-hadaptativos que vão sempre alimentar um ciclo de dor e isso têm grandes conseqüências na sua qualidade de vida.
Por muito tempo, médicos e fisioterapeutas trataram a dor lombar crônica pensando somente nas estruturas na coluna correlacionando SEMPRE dor com LESÃO e por muitas vezes, falhamos no passado.
Quando as pesquisas nos apontaram outro caminho a seguir e entendemos a dor como um sistema separado da lesão, conseguimos excelentes resultados para DESLIGAR esse ciclo de dor, acolhendo com empatia e ouvindo nosso paciente. Trabalhamos junto ao paciente, enfatizando na educação, ressignificando crenças e oferecendo informações de segurança e confiança quanto a se movimentar e mudar os hábitos para uma maior qualidade de vida, expondo nosso paciente gradualmente a atividades físicas e a movimentos que antes lhe eram “perigosos”
Vamos olhar agora para a escoliose e a dor na vida adulta?
Se sabemos hoje em dia que dor não significa que sempre teremos lesões, e que, muitas dos achados em imagens como radiografia e ressonância magnética (como discopatia degenerativa, desidratação/degeneração de discos, protusão discal) não são doenças e sim sinais de envelhecimento (como rugas e cabelos brancos), por quê justificar as dores crônicas de pacientes com escoliose na fase adulta com esses argumentos?
Será que pessoas que ouviram desde o seu diagnóstico de escoliose na infância/ adolescência frases como "sua coluna é torta!", "você não pode mexer a coluna", "você vai sentir muita dor nas costas quando for mais velho", "você não pode fazer atividades de impacto", "você não pode carregar peso", "se você está assim com 15 anos, imagina com 60, não acreditam mesmo na sua incapacidade e fragilidade? não vivem a todo momento com o sistema de alarme/dor ligado e sensibilizado?
Se profissionais da saúde afirmassem para seus pacientes com escoliose que eles são saudáveis e os empoderassem com outras frases e crenças, será que teriam dor lombar crônica na vida adulta ou estes mesmos indivíduos com escoliose teriam outros hábitos de vida mais saudáveis e se sentiriam capazes tanto quanto pessoas sem escoliose?
Escoliose é uma condição da coluna vertebral e não deve ser considerada como um fator limitante nas atividades diárias, recreacionais e esportivas dos indivíduos que têm esta condição.
Precisamos cuidar e mostrar novos caminhos no manejo da dor crônica lombar, onde o paciente estará sempre empoderado do seu tratamento com técnicas ativas e educação em dor.
Indivíduos com escoliose são pessoas saudáveis que podem e devem manter bons hábitos de vida! Para uma coluna com saúde, o melhor caminho será sempre com a prática regular de exercícios físicos, de acordo com a preferência de cada um.
Após essas informações, vamos começar a pensar diferente?
Conteúdo Autoral desenvolvido pela Dra.Aline Granato Barbosa
Muito bom texto e abordagem, parabéns Dra. Aline, tenho esse mesmo tipo de abordagem com meus pacientes quando faço o tratamento de escoliose com a Quiropraxia.
Precisamos explicar o que é a escoliose e propor uma forma de tratamento ou manutenção das curvas caso não seja possível diminuí-las.
Ótimo trabalho.
Att.
Dr. Fabio Motta
Quiro Salus - Quiropraxia